“Nos últimos dias da Lei, o
devoto do Sutra de Lótus aparecerá infalivelmente. Quanto piores forem as
adversidades que recaírem sobre o devoto, maior será a alegria que ele sentirá
devido à sua forte fé. O fogo não arde mais intensamente quando a lenha é
adicionada? Todos os rios desembocam no mar; no entanto, poderia ocorrer de o
mar rejeitar as águas deles? As torrentes de adversidades desaguam no mar do
Sutra de Lótus e avançam contra o seu devoto. Assim como o oceano não rejeita
as águas dos rios, o devoto não rechaça o sofrimento. Se não fosse pelo fluxo
dos rios, não existiria mar. Da mesma forma, sem as adversidades, não existiria
devoto do Sutra de Lótus. Conforme Tiantai declarou: “Os rios correm para o
mar, e a lenha faz o fogo crepitar mais intensamente.”
(...)
O Grande Mestre Miaole declarou:
Mesmo uma única frase, guardada no fundo do coração ajudará a chegar ao outro
lado da margem. Ponderar sobre uma única frase e aplica-la é exercer a
navegação.” Somente o barco do Nam-myoho- rengue-kyo possibilita alguém
atravessar o mar dos sofrimentos do nascimento e da morte.”
CENÁRIO HISTÓRICO
Esta carta foi escrita por
Nitiren Daishonin em 1261, sendo direcionada a Shiiji Shiro, amigo de dois de
seus importantes discípulos: Shijo Kingo e Toki Jonin.
Neste gosho, Nitiren esclarece
que o Nam-myoho- rengue-kyo é como um barco, que ajuda as pessoas dos últimos
dias da Lei (época atual), a atravessar o grande mar de sofrimentos que se
manifestam durante a vida.
Vivemos em um mundo denominado
Saha, palavra que em sânscrito significa resistência, ou seja, viver é antes de
tudo resistir aos sofrimentos.
Já nascemos sob a égide dos
quatro sofrimentos: nascimento, doença, velhice e morte e também sob a
influência de carmas criados em outras existências, os quais se manifestam
incessantemente ao longo de nossa vida atual.
Vivemos sob os auspícios dos sofrimentos reais (doenças, dores físicas,
fome, etc...) e também sob a influência de sofrimentos imaginários, oriundos da
comparação com outras pessoas, quando o muito já não é o suficiente.
Então, como sobreviver a esse
cataclisma de sofrimentos? Como construir uma vida feliz dentro de uma sociedade
injusta e de uma realidade com poucas perspectivas? Como já dizia a canção: “A
sombra do futuro e a sobra do passado, assombram a paisagem.”
Neste gosho, Nitiren responde a
estas perguntas sob a perspectiva do budismo. Segundo ele, o Nam-myoho-rengue-kyo
é como um barco que ajuda as pessoas a atravessar a torrente de sofrimentos com
a qual nos deparamos ao longo da vida.
Isso porque, quando oramos
Nam-myoho-rengue-kyo, nossa natureza de Buda é ativada, e por isso ampliamos a
nossa perspectiva, enxergando além da nossa situação atual. Desenvolveremos
também a sabedoria que possibilita visualizar as possíveis soluções, a coragem
para sair da nossa condição de conformismo, colocar nossas idéias em prática,
transformando o que precisa ser transformado e benevolência para ajudar outras
pessoas que também sofrem.
Ou seja, adquirimos a condição de
protagonistas de nossa própria história ao invés de meros expectadores de um
autor chamado destino neste cenário chamado vida.