sábado, 20 de junho de 2015

GOSHO: O PORTAL DO DRAGÃO


Na China, existe uma cachoeira conhecida como Portal do Dragão. Suas águas precipitam de uma altura de trinta metros a uma velocidade superior à de uma flecha lançada por um robusto arqueiro. Inúmeras carpas reúnem-se aos pés da cachoeira na esperança de subi-la. Aquela que conseguir o feito vai se transformar em dragão. No entanto, nem um único peixe em cem, mil ou dez mil consegue realizar a façanha, mesmo depois de dez ou vinte anos de esforços. Alguns são arrastados pela forte correnteza, outros caem nas garras de águias, falcões, milhafres e corujas e outros são presos em redes, armadilhas, ou, ainda, são atingidos por flechas de pescadores que se enfileiram em ambas as margens do rio de dez tyo de largura. Tal é a dificuldade que uma carpa encontra para se tornar um dragão.

(...)

Atingir o estado de Buda é tão difícil quanto uma pessoa de classe baixa entrar para o círculo da nobreza ou uma carpa escalar o Portal do Dragão.” 


Cenário Histórico

Esta carta foi escrita por Nitiren Daishonin no dia 06/11/1279, sendo endereçada ao seu jovem discípulo Nanjo Tokimitsu, administrador da Vila Ueno. Vale lembrar que quase um mês antes, no dia 12/10/1279, Nitiren inscreveu o Dai Gohonzon, o Supremo Objeto de Devoção, almejando a felicidade de toda a humanidade.

A época em que este gosho foi produzido, tratava-se de um período de intensa perseguição contra os seguidores de Nitiren Daishonin, que dedicou esta carta ao seu disícuplo Tokimitsu objetivando incentivá-lo a permanecer firme e convicto na fé, a despeito de qualquer perseguição que sofresse.
Nitiren então explica dificuldade em se atingir o estado de Buda, fazendo uma alusão ao Portal do Dragão, uma lendária cachoeira que faz parte do mito chinês.
Segundo a lenda, aos pés desta cachoeira existiam carpas que tentavam a todo custo alcançar o topo da cachoeira. Isto porque, ao alcançar o topo, as capas se transformariam em dragões, responsáveis por regular o ciclo de chuvas.
Ocorre que, no caminho para se transformar em um dragão, a carpa se deparava com inúmeras dificuldades, tais como a força da correnteza empurrando os peixes para baixo e a ação de pescadores e aves de rapina tentando apanhar os peixes que tentavam subir.
Fazendo uma alusão da dificuldade da carpa em superar estas dificuldades e alcançar o topo da cachoeira, podemos entender a dificuldade em se alcançar o estado de Buda da seguinte forma: a força das águas da cachoeira se comparam à uma era maléfica, a Era de Mappo, contaminada com as cinco impurezas (impureza da época, impureza do desejo, impureza dos seres vivos, impureza do pensamento e impureza da vida), enquanto que as aves de rapina e aos pescadores se comparam aos três obstáculos e quatro maldades (obstáculo dos desejos mundanos, obstáculo do carma, obstáculo da retribuição. A maldade  do impedimento dos cinco componentes, do impedimento dos desejos mundanos, do impedimento da morte e  do impedimento do Rei Demônio do Sexto Céu).

Na prática este gosho não só se refere à dificuldade em se atingir o estado de Buda, como também à dificuldade em se atingir qualquer objetivo grandioso.

GOSHO: A DIFICULDADE DE MANTER A FÉ





“Isto diz respeito ao seguinte trecho: “Este sutra é difícil de manter”. De acordo com Acharya Ben, o senhor lhe disse: “Tenho praticado este Sutra do Lótus corretamente desde o ano passado, quando o senhor disse que aqueles que abraçam este sutra “desfrutarão paz e segurança na presente existência e boa circunstâncias nas existências futuras.
No entanto, em vez disso, uma chuva de grandes adversidades recai sobre mim.”
Isto está correto ou o que ele me relatou é falso? De qualquer maneira aproveitarei esta oportunidade para esclarecer quaisquer dúvidas que o senhor possa ter.
Uma frase do Sutra do Lótus diz que ele é “o mais difícil de compreender”. Muitos ouvem sobre este Sutra e o aceitam, mas quando grandes obstáculos surgem, exatamente como lhes foi dito que ocorreria, são raras as pessoas que mantém firme este pensamento sem esquecê-lo. Aceitar é fácil; manter é difícil. Porém, para se atingir o estado de buda é necessário manter a fé. Aqueles que mantém este sutra devem estar preparados para enfrentar dificuldades. No entanto, é certo que eles “atingirão rapidamente o insuperável caminho do buda.” “Manter” significa ter no coração o Nam-myoho-rengue-kyo, o princípio primordial para todos os budas das três existências. No sutra consta: “Protegeremos e manteremos o que o buda nos confiou.” O grande mestre Tiantai afirmou: “A pessoa aceita por causa do poder de sua fé e continua por causa do poder de seu pensamento firme e constante.”Em outra parte do sutra consta o seguinte: “Este sutra é difícil de manter; se alguém puder mantê-lo ainda que por pouco tempo, eu certamente me alegrarei, assim como todos os outros budas.”
O fogo arde com ainda mais intensidade quando se adiciona lenha, e o kalakula aumenta de tamanho quando o vento sopra com mais força. O pinheiro vive dez mil anos, por isso,  seus galhos podem ser envergados e retorcidos. O devoto do Sutra do Lótus é como o fogo e o kalakula, ao passo que as perseguições que ele enfrenta são como a lenha e o vento. O devoto do Sutra do Lótus é Aquele que Assim Chega, cuja extensão de vida é imensurável; por essa razão, é natural que enfrente adversidades em sua prática, assim como os ramos do pinheiro são envergados ou quebrados. De agora em diante, lembre-se sempre destas palavras: “Este sutra é difícil de manter.”
Cenário Histórico
Esta carta foi escrita por Nitiren Daishonin e endereçada a seu fiel discípulo Shingo Kingo, quando este enfrentava inúmeras adversidades como a perseguição de seus colegas samurais e a pressão de seu lorde para que abandonasse a fé no Sutra de Lótus.
Nesta carta, Daishonin incentiva seu discípulo a manter a fé no Sutra e a permanecer firme na prática mesmo diante das perseguições sofridas, pois, somente mantendo a fé poderia atingir o estado de buda.
Daishonin elucida ainda que aqueles que seguem seus ensinos e mantêm a fé no Sutra de Lótus deverão estar preparados para enfrentar dificuldades. Isto ocorre pela função dos três obstáculos e das quatro maldades (sansho shima), são eles:
“1 - Bonno-sho: Obstáculo dos desejos mundanos, ou obstáculos que provêm dos três venenos da avareza, ira e estupidez.
2 - Go-sho: Obstáculo do carma, ou obstáculo proveniente do mau carma criado por cometer qualquer um dos cinco pecados capitais ou dez maus atos. Esta categoria também é interpretada como oposição das esposas ou dos filhos.
3 - Ho-sho: Obstáculo da retribuição, ou obstáculo devido à dolorosa retribuição pela ação dos três maus caminhos. Esta categoria também indica os obstáculos causados por soberanos, pais ou outras pessoas que exercem algum tipo de autoridade.
As quatro maldades (Shima) são:
1 - On-ma: A maldade dos cinco componentes, isto é, os impedimentos causados pelas funções físicas e mentais.
2 - Bonno-ma: Impedimentos dos desejos mundanos que surgem dos três venenos.
3 - Shi-ma: Impedimentos causados pela morte. Devido ao medo e ao sofrimento que ela vincula, pode obstruir a prática do budismo.
4 - Tenshi-ma: Impedimento causado pelo Demônio do Sexto Céu. Esta maldade é comumente manifestada na forma de opressão por homens de poder.” *
 Enfim, neste gosho Nitiren Daishonin elucida que manter a fé no Sutra de Lótus exige do praticante uma postura firme e determinada, pois poderá, em algum momento de sua prática, se deparar com a ação de maldades e obstáculos.






*(Sobre “Os três obstáculos e as quatro maldades”, ver mais em: http://www.maisbelashistoriasbudistas.com/sansho.htm)

domingo, 31 de maio de 2015

GOSHO: UM BARCO PARA ATRAVESSAR O MAR DE SOFRIMENTOS


                                                           
                                   
“Nos últimos dias da Lei, o devoto do Sutra de Lótus aparecerá infalivelmente. Quanto piores forem as adversidades que recaírem sobre o devoto, maior será a alegria que ele sentirá devido à sua forte fé. O fogo não arde mais intensamente quando a lenha é adicionada? Todos os rios desembocam no mar; no entanto, poderia ocorrer de o mar rejeitar as águas deles? As torrentes de adversidades desaguam no mar do Sutra de Lótus e avançam contra o seu devoto. Assim como o oceano não rejeita as águas dos rios, o devoto não rechaça o sofrimento. Se não fosse pelo fluxo dos rios, não existiria mar. Da mesma forma, sem as adversidades, não existiria devoto do Sutra de Lótus. Conforme Tiantai declarou: “Os rios correm para o mar, e a lenha faz o fogo crepitar mais intensamente.”
(...)
O Grande Mestre Miaole declarou: Mesmo uma única frase, guardada no fundo do coração ajudará a chegar ao outro lado da margem. Ponderar sobre uma única frase e aplica-la é exercer a navegação.” Somente o barco do Nam-myoho- rengue-kyo possibilita alguém atravessar o mar dos sofrimentos do nascimento e da morte.”
CENÁRIO HISTÓRICO
Esta carta foi escrita por Nitiren Daishonin em 1261, sendo direcionada a Shiiji Shiro, amigo de dois de seus importantes discípulos: Shijo Kingo e Toki Jonin.
Neste gosho, Nitiren esclarece que o Nam-myoho- rengue-kyo é como um barco, que ajuda as pessoas dos últimos dias da Lei (época atual), a atravessar o grande mar de sofrimentos que se manifestam durante a vida.
Vivemos em um mundo denominado Saha, palavra que em sânscrito significa resistência, ou seja, viver é antes de tudo resistir aos sofrimentos.
Já nascemos sob a égide dos quatro sofrimentos: nascimento, doença, velhice e morte e também sob a influência de carmas criados em outras existências, os quais se manifestam incessantemente ao longo de nossa vida atual.
Vivemos sob os auspícios  dos sofrimentos reais (doenças, dores físicas, fome, etc...) e também sob a influência de sofrimentos imaginários, oriundos da comparação com outras pessoas, quando o muito já não é o suficiente.
Então, como sobreviver a esse cataclisma de sofrimentos? Como construir uma vida feliz dentro de uma sociedade injusta e de uma realidade com poucas perspectivas? Como já dizia a canção: “A sombra do futuro e a sobra do passado, assombram a paisagem.”
Neste gosho, Nitiren responde a estas perguntas sob a perspectiva do budismo. Segundo ele, o Nam-myoho-rengue-kyo é como um barco que ajuda as pessoas a atravessar a torrente de sofrimentos com a qual nos deparamos ao longo da vida.
Isso porque, quando oramos Nam-myoho-rengue-kyo, nossa natureza de Buda é ativada, e por isso ampliamos a nossa perspectiva, enxergando além da nossa situação atual. Desenvolveremos também a sabedoria que possibilita visualizar as possíveis soluções, a coragem para sair da nossa condição de conformismo, colocar nossas idéias em prática, transformando o que precisa ser transformado e benevolência para ajudar outras pessoas que também sofrem.
Ou seja, adquirimos a condição de protagonistas de nossa própria história ao invés de meros expectadores de um autor chamado destino neste cenário chamado vida.


segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

O INFERNO É A TERRA DA LUZ TRANQUILA





“Nem a terra pura nem o inferno existem fora de nós, ambos se encontram apenas em nosso coração. Aquele que desperta para isso é chamado buda, e aquele que o ignora é chamado mortal comum. O Sutra de  Lótus revela essa verdade, e aquele que abraça este sutra perceberá que o inferno é a própria Terra da Luz Tranquila.”
(...)
“Do índigo, um azul ainda mais forte.” Esta  passagem indica que ao mergulhar algo repetidas vezes na tintura de índigo, o resultado será um azul ainda mais intenso que o das próprias folhas da planta. O Sutra de Lótus é como o índigo, e o poder da fé de uma pessoa é como o azul que se torna cada vez mais intenso.”

Nitiren Daishonin dirigiu este gosho a esposa do então falecido Nanjo Hyoe Shichiro, também conhecido como lorde Ueno.”

CENÁRIO HISTÓRICO
No primeiro trecho destacado, Nitiren esclarece que o inferno e a terra da luz tranquila se encontram dentro do próprio coração humano.  Ou seja, os dez mundos (Inferno, Fome, Animalidade, Ira, Tranquilidade, Alegria, Bodisatva e Buda) existem no interior de nossa própria vida e se manifestam através dos dez fatores, quais sejam: aparência, natureza, entidade, poder, influência, causa interna, causa externa, efeito latente, efeito manifesto e consistência do início ao fim. Por outro lado, esta constatação nos proporciona o poder de transformar nosso estado de vida básico através da recitação do Nam-myoho-rengue-kyo.
No segundo trecho em destaque, Nitiren Daishonin exalta mais uma vez o poder da fé. O Sutra de Lótus é o mesmo, entretanto, a  manifestação dos benefícios oriundos da prática do budismo  tem relação com o tamanho da fé que cada pessoa apresenta e com seu poder de perseverar neste caminho.

Em resumo, neste trecho do gosho, Daishonin revela a importância de se fortalecer a nossa convicção, para que possamos desfrutar de mais benefícios e boa sorte em nossa vida.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

AMENIZAÇÃO DO EFEITO CÁRMICO



“O Sutra Nirvana expõe o princípio de amenizar o efeito cármico. Se uma pessoa, na presente existência , não erradicar o carma negativo acumulado desde o passado, ela experimentará o sofrimento do inferno do futuro. No entanto, se enfrentar grandes obstáculos nesta vida [pelo Sutra de Lótus], o sofrimento do inferno se desvanecerá instantaneamente. E, quando morrer, essa pessoa obterá os benefícios dos mundos humano e celestial, e também dos mundos dos três veículos e do veículo único. Não foi sem motivo que o bodisatva Jamais Desprezar foi maltratado, difamado, apedrejado e agredido com bastões. Ele provavelmente havia caluniado o ensinamento correto no passado. A frase “quando os crimes tiverem sido erradicados”, indica que pelo fato do bodsatva Jamais Desprezar ter enfrentado perseguições, ele foi capaz de extinguir os crimes de existências anteriores.( Isto conclui meu primeiro ponto).”(Coletânea dos escritos de Nitiren Daishonin, vol. I, pgs. 207 a 209). (grifei)
Cenário Histórico
No quinto dia do décimo mês de 1271, Nitiren escreveu e enviou esta carta para os três principais discípulos: Ota Saemon, um funcionário do governo; ao sacerdote leigo Soya Kyoshin; e a ponte do Darma Kimbara. Provavelmente a carta foi enviada para expressar a gratidão de Nitiren pela visita que recebeu de um destes discípulos quando se encontrava detido na residência de Homa.
Esta carta foi escrita semanas depois da fracassada tentativa do governo de decapitar Daishonin em Tatsunokuchi. Nesta época uma onda de incêndios e assassinatos devastou Kamakura, sendo os seguidores de Nitiren Daishonin acusados destes crimes. Por esta razão, Nitiren Daishonin enviou uma série de cartas de incentivos aos seus seguidores que se encontravam abalados pelos acontecimentos.

Neste Gosho, Nitiren Daishonin elucida que os obstáculos encontrados por propagar o budismo de Nitiren Daishonin possibilitam à pessoa erradicar o carma negativo acumulado existência após existência, como também atingir o estado de Buda.

A CARTA DE SADO



“Aquele que escala uma montanha, mais cedo ou mais tarde terá que descê-la. Aquele que despreza o outro será desprezado. Aquele que despreza o outro, por este possuir uma bela aparência, nascerá com uma aparência feia. Aquele que rouba alimentos e roupas cairá infalivelmente no mundo dos espíritos famintos. Aquele que ridiculariza uma pessoa digna que observa os preceitos nascerá numa família pobre e de posição baixa. Aquele que calunia uma família que abraça o ensinamento correto nascerá num lar que mantém visões errôneas. Aquele que ridiculariza quem observa fielmente os preceitos nascerá como um plebeu e será perseguido pelo soberano. Esta é a lei geral de causa e efeito.
No entanto, meus sofrimentos não se atribuem a esta lei causal. No passado, desprezei os devotos do Sutra de Lótus. Ridicularizei também o próprio sutra, algumas vezes com exagero; outras com desdém – esse sutra, tão maravilhoso quanto duas luas brilhando lado a lado, duas estrelas juntas, um monte Hua sobre outro ou duas pedras preciosas juntas. É por isso que eu enfrentei os oito tipos de sofrimento mencionados. Normalmente, esses sofrimentos aparecem um de cada vez e perduram pelo infinito futuro. Porém, Nitiren denunciou os inimigos do Sutra de Lotus de maneira tão voraz que todos os oito sofrimentos se manifestaram de uma só vez. Isso se assemelha ao caso do camponês que tem uma enorme dívida para com o senhor do seu vilarejo e outras autoridades. Enquanto o camponês permanecer no vilarejo ou no distrito, ao invés de pressioná-lo sem piedade, seus credores talvez prolonguem o pagamento ano após ano. Porém, se o camponês tentar ir embora, eles o cercarão e exigirão que pague tudo de uma vez. A isso se refere o Sutra Parinirvana com a frase: “É pelo benefício obtido por proteger a lei.”
O Sutra de Lótus ressalta: “Haverá muitas pessoas ignorantes que o caluniarão e falarão mal de nós, que nos atacarão com espadas e bastões, pedras e telhas...recorrerão aos governantes, ministros, brâmanes, chefes de família e a outros monges e nos caluniarão...seremos banidos repetidas vezes. Se os ofensores não forem atormentados pelos guardiões do inferno, eles jamais conseguirão [pagar por suas faltas e] escapar do inferno. Se não for pelos governantes e ministros que agora me perseguem, eu não poderia erradicar meus crimes passados de calúnia ao ensinamento correto.”
Cenário Histórico
Esta carta foi escrita no vigésimo dia do terceiro mês de 1272, aproximadamente cinco meses após Nitiren Daishonin ter chegado ao local de exílio na Ilha de Sado. Daishonin a endereçou a Toki Jonin, um samurai e destacado serviçal do senhor feudal Chiba, comandante militar da província de Chimosa, a Saburo Saemon (Shijo Kingo), em Kamakura; e a outros fiéis seguidores.
(...)
Na última parte da carta, Daishonin oferece uma explanação abrangente sobre carma, ou destino. Declara que as dificuldades pelas quais passava naquele momento derivam das ações por ele cometidas contra o Sutra de Lotus numa existência anterior. Citando a si mesmo como exemplo, elucida aos discípulos o tipo de espírito e de prática que lhes permitirão transformar o carma. Ele completa dizendo que as pessoas que propagam o ensinamento correto do budismo com certeza enfrentarão oposições que, na realidade, representam oportunidades para transformar o carma. Aos que abandonaram a fé e passam a criticar,  Daishonin adverte que, por essas ações, essas pessoas sofrerão as piores consequências.Ele compara a falta de visão dessas pessoas aos vagalumes que ridicularizam o Sol.”( Coletânea dos escritos de Nitiren Daishonin, volume 1, pgs.324 e 325)



A FELICIDADE NESTE MUNDO


“Não há felicidade maior para os seres humanos do que recitar o Nam-myoho-rengue-kyo. O sutra diz: "... onde os seres vivos vivem felizes e tranquilos”A que outro significado essa passagem poderia referir-se senão à alegria ilimitada da Lei?Com certeza o senhor conta entre os “seres vivos”. “Onde” indica Jambudpiva, e o Japão se encontra em Jambudpiva. Poderia a expressão “vivem felizes e tranquilos” significar outra coisa senão que nosso corpo e nossa mente, nossa vida e nosso ambiente são entidades dos três mil mundos num único momento da vida e budas de alegria ilimitada?
Não há felicidade maior do que manter a fé no Sutra de Lótus. Esse é o significado de “paz e segurança na presente existência e boas circunstâncias nas existências futuras.”Ainda que surjam problemas seculares  nunca permita que estes o perturbem. Ninguém pode evitar problemas, nem mesmo veneráveis e reverenciáveis.
 Beba saquê somente em casa com sua esposa e recite Nam-myoho-rengue-kyo. Sofra o que tiver de sofrer, desfrute o que existe para ser desfrutado. Considere tanto o sofrimentos como a alegria como fatos da vida, e continue orando o Nam-myoho-rengue-kyo, não obstante o que aconteça. Que outro significado isso poderia ter senão a alegria ilimitada da Lei? Fortaleça a sua fé mais do que nunca.
Com meu profundo respeito,
Nitiren
Em 27 de junho de 1276
(Coletânea dos Nitiren Daishonin, volume I, pp.713/714)
CENÁRIO HISTÓRICO
Nitiren Daishonin endereçou esta carta a um de seus principais discípulos, chamado Shijo Kingo. Vale lembrar que Shijo um samurai  que serviu a família Ema, uma ramificação do clã governante, Hojo.
Daishonin expressou uma profunda benevolência quando endereçou esta carta a ShijoNa época, Shijo Kingo, pois este passava, naquele momento, por inúmeras situações difíceis em seu trabalho, correndo o risco de perder a própria vida por haver tentado converter seu lorde, Ema Mitsutoki, aos ensinos de Nitiren Daishonin.
Neste escrito, Nitiren afirma que a verdadeira felicidade se encontra na recitação do Nam-myoho-rengue-kyo e na manutenção da fé no Sutra de Lótus, uma vez que este promete paz e segurança na presente existência e boas circunstâncias nas existências futuras.”
Daishonin ainda incentiva seu discípulo dizendo que os sofrimentos e as alegrias fazem parte da vida, e que ele deve continuar recitando Nam-myoho-rengue-kyo não importando qual circunstância venha a se manifestar: sofrimento ou alegria.







ATINGIR O ESTADO DE BUDA NESTA EXISTÊNCIA






"Se deseja libertar-se dos sofrimentos do nascimento e da morte - suportados desde o tempo sem início- e atingir a iluminação suprema nesta existência, deve despertar para a verdade mística inerente nos seres vivos. Essa verdade é Myoho-rengye-kyo. A recitação do Myoho-rengue-kyo lhe possibilitará compreender a verdade mística inata em cada vida.
(...)
Contudo, mesmo que recite e acredite no Nam-myoho-rengue-kyo, se pensa que a lei existe fora do seu coração, o senhor não está abraçando a Lei Mística, mas um ensinamento inferior. (...) Assim, quando o senhor recita myoho e pronuncia  rengue, deve ter a profunda fé de que o Myoho-rengue-kyo é sua própria vida.
(...)
Se buscar a iluminação fora de si, então,  mesmo que realize dez mil práticas e dez mil boas ações, tudo será em vão. Isso se compara ao caso de um homem pobre que passa dia e noite contando a riqueza do vizinho, mas não consegue conter uma ínfima quantia em benefício próprio. É por essa razão que a escola Tiantai afirma: “Se não despertar para a própria natureza, não conseguirá erradicar os graves crimes de sua vida.”
(...)
Conta também que se a mente das pessoas é impura, sua terra será igualmente impura. Mas se sua mente é pura, assim será a sua terra. Portanto, não há duas terras – pura e impura. A diferença reside apenas no bem e no mal da própria mente.”

CENÁRIO HISTÓRICO

Nitiren Daishonin escreveu esta carta a Toki Jonin em 1255. Toki era seguidor de Nitiren e vivia em Wakamyia, na província de Shimosa.
Nesta carta, Daishonin expõe de maneira clara sua convicção de que o Nam-myoho-rengue-kyo é o único caminho capaz de conduzir as pessoas à iluminação, mas alerta, de maneira enfática sobre a necessidade de se compreender que o Estado de Buda se encontra dentro de cada pessoa, caso contrário, não será possível erradicar as ofensas cometidas no passado e transformar o carma.
Em suma, dentro de cada um de nós existe um potencial infinito e que muitas vezes desconhecemos, e se não tomarmos consciência dele, nossa prática não terá o poder de transformar o destino.