“Na China, existe
uma cachoeira conhecida como Portal do Dragão. Suas águas precipitam de uma
altura de trinta metros a uma velocidade superior à de uma flecha lançada por
um robusto arqueiro. Inúmeras carpas reúnem-se aos pés da cachoeira na
esperança de subi-la. Aquela que conseguir o feito vai se transformar em
dragão. No entanto, nem um único peixe em cem, mil ou dez mil consegue realizar
a façanha, mesmo depois de dez ou vinte anos de esforços. Alguns são arrastados
pela forte correnteza, outros caem nas garras de águias, falcões, milhafres e
corujas e outros são presos em redes, armadilhas, ou, ainda, são atingidos por
flechas de pescadores que se enfileiram em ambas as margens do rio de dez tyo
de largura. Tal é a dificuldade que uma carpa encontra para se tornar um
dragão.
(...)
Atingir o estado de Buda é tão difícil quanto
uma pessoa de classe baixa entrar para o círculo da nobreza ou uma carpa
escalar o Portal do Dragão.”
Cenário Histórico
Esta
carta foi escrita por Nitiren Daishonin no dia 06/11/1279, sendo endereçada ao seu jovem discípulo Nanjo Tokimitsu, administrador da Vila
Ueno. Vale lembrar que quase um mês antes, no dia 12/10/1279, Nitiren inscreveu
o Dai Gohonzon, o Supremo Objeto de Devoção, almejando a felicidade de toda a
humanidade.
A época
em que este gosho foi produzido, tratava-se de um período de intensa
perseguição contra os seguidores de Nitiren Daishonin, que dedicou esta carta
ao seu disícuplo Tokimitsu objetivando incentivá-lo a permanecer firme e convicto
na fé, a despeito de qualquer perseguição que sofresse.
Nitiren
então explica dificuldade em se atingir o estado de Buda, fazendo uma alusão ao
Portal do Dragão, uma lendária cachoeira que faz parte do mito chinês.
Segundo a
lenda, aos pés desta cachoeira existiam carpas que tentavam a todo custo
alcançar o topo da cachoeira. Isto porque, ao alcançar o topo, as capas se
transformariam em dragões, responsáveis por regular o ciclo de chuvas.
Ocorre
que, no caminho para se transformar em um dragão, a carpa se deparava com inúmeras
dificuldades, tais como a força da correnteza empurrando os peixes para baixo e
a ação de pescadores e aves de rapina tentando apanhar os peixes que tentavam
subir.
Fazendo
uma alusão da dificuldade da carpa em superar estas dificuldades e alcançar o
topo da cachoeira, podemos entender a dificuldade em se alcançar o estado de
Buda da seguinte forma: a força das águas da cachoeira se comparam à uma era
maléfica, a Era de Mappo, contaminada com as cinco impurezas (impureza da
época, impureza do desejo, impureza dos seres vivos, impureza do pensamento e
impureza da vida), enquanto que as aves de rapina e aos pescadores se comparam
aos três obstáculos e quatro maldades (obstáculo dos desejos mundanos,
obstáculo do carma, obstáculo da retribuição. A maldade do impedimento dos cinco componentes, do
impedimento dos desejos mundanos, do impedimento da morte e do impedimento do Rei Demônio do Sexto Céu).
Na
prática este gosho não só se refere à dificuldade em se atingir o estado de
Buda, como também à dificuldade em se atingir qualquer objetivo grandioso.